Bem eu sei a fonte que mana e corre, e
1. Aquela eterna fonte não a vê ninguém / E bem sei onde é e donde vem, / Embora seja noite.
2. Não sei a fonte dela, que não há, / Mas sei que toda a fonte vem de lá, / Embora seja noite.
3. Não pode haver, eu sei, coisa tão bela / E terra e céus beleza bebem dela, / Embora seja noite.
4. Porque não pode ali o fundo achar, / Sei que ninguém a pode atravessar, / Embora seja noite.
5. A claridade sua não ’scurece / E sei que toda a luz dela amanhece, / Embora seja noite.
6. Tão caudalosas são suas correntes / Que regam céus, infernos e as gentes, / Embora seja noite.
7. E desta fonte nasce uma corrente / E bem sei eu qu’ é forte e omnipotente, / Embora seja noite.
8. Das duas a corrente, que procede / Sei que nenhuma delas a precede, / Embora seja noite.
9. E esta eterna fonte ‘stá ‘scondida / Em este vivo pão a dar-nos vida, / Embora seja noite.
10. Aqui está a chamar as criaturas / Que bebem desta água e às escuras, / Porque é de noite.
11. E esta viva fonte que desejo, / Em este pão da vida, aí a vejo, / Embora seja noite.